NOVO DESIGN
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011





















UMA ÁRVORE DE NATAL DIFERENTE
Maria Hilda de J. Alão.
As crianças da quarta série estavam agitadas. O Natal se aproximava e elas faziam planos sobre os presentes que pediriam ao Papai Noel. A professora ajudava na redação das cartas, mas enfatizava que o amor é o maior e melhor presente que existe. Ela dizia isto porque todo o ano, na época do Natal, levava as crianças para visitar o asilo dos velhinhos instalado na mesma rua onde ficava a escola. Essa visita costumava acontecer uma semana antes do término das aulas. Cada aluno levava um presente para os idosos. Podiam levar roupa, doces, livros, discos, tudo que pudesse dar alegria a um velhinho ou velhinha.
Chegou o dia da visita. A professora, D. Noemi, reuniu as crianças e pediu a ajuda dos inspetores de alunos para transportar os presentes. Chegaram ao asilo. O salão estava preparado para a festinha de Natal que era um grande almoço, cantos, ouvir histórias e depois a entrega dos presentes. Era um quadro comovente ver as crianças abraçando aqueles idosos que choravam lembrando, quem sabe, de filhos e netos. À Aninha coube entregar um presente para D. Cora, a interna mais velha do asilo, um xale de lã azul pontilhado com pedrinhas brilhantes. A velha senhora recebeu o presente e, sorrindo, disse:
- Recebi um pedaço de céu estrelado das mãos de um anjo. Sabe minha filha: o que eu mais queria era ver uma árvore de natal inteirinha iluminada, mas uma árvore de verdade, não essas feitas de plástico. – disse beijando as mãos de Aninha.
Depois de terminada a festa as crianças foram se reunir no gramado em frente à escola, porque Aninha ficara sensibilizada com o que dissera D. Cora.
- Como vamos arranjar uma árvore de natal de verdade e tão grande que possa ser vista da janela do quarto de D. Cora? – perguntou Marquinhos.
- Eu acho que não podemos fazer nada, Aninha... – disse Letícia desanimada.
- Podemos improvisar. Vocês não repararam no jardim do asilo? Lá tem uma árvore alta, embora não seja um pinheiro, mas acho que serve. É só colocar os enfeites, as lâmpadas e acender. – disse o Pedrinho, um menino de óculos com cara de inteligente.
- É, sabidinho! E quem vai subir pra colocar tudo isso? E se a gente cair e se machucar? Como fica? – questionou o Marquinhos.
- É! Então eu não sei como fazer... – respondeu Pedrinho.
E as crianças ficaram discutindo se subiam ou não na árvore quando ouviram um psiu. Olharam para um lado e para o outro e não havia ninguém. Outra vez o psiu.
- Psiu, aqui na grama, crianças. Olhem para baixo.
Era um grilo falante saído de um cantinho do gramado, onde nascem florzinhas bem pequeninas semeadas pelo vento e pelos pássaros. Ele ficara curioso com aquela reunião e se pôs a escutar a conversa. Sabia que era feio ouvir a conversa dos outros, mas, esperto como era, percebeu logo que havia um problema e resolveu ajudar no que pudesse. As crianças contaram tudo ao grilo.
- Gente! Isso não é uma coisa impossível. Se iluminar é o grande problema deixem comigo. Só quero que me mostrem a árvore. – pediu.
As crianças correram, acompanhadas pelo grilo, para a entrada do asilo. Apontaram a árvore e, saltitando, ele disse:
- Na noite de Natal venham todos ao asilo para ver.
Foi embora, pulando para o cantinho das florzinhas, sem mais explicações. O que será que o grilo iria fazer? Um grilo sozinho... tão pequenino... Bem, é melhor esperar o dia para ver.
Aninha contou para a mãe a conversa, mas não mencionou o grilo porque ela não acreditaria. Adulto não crê nessas coisas de criança falar com bicho, com anjo ou com árvores. Só disse que era um amigo, e que através dele a turma faria uma surpresa para D. Cora no dia de Natal.
- Eu só espero que ninguém saia machucado. – disse a mãe.
As crianças conversaram com a professora, D. Noemi, que foi solicitar o consentimento da diretora do asilo para que pudessem enfeitar a árvore do jardim. Autorização concedida, e para evitar acidentes, o jardineiro ficou encarregado de colocar os enfeites natalinos em todos os galhos da árvore. Foi aí que a professora perguntou:
- E a iluminação? Vocês têm as lâmpadas?
- Um amigo... vai trazer... – respondeu Aninha meio sem jeito.
- E quem é esse amigo? – insistiu a mestra.
- Bem, professora, como é uma surpresa para D. Cora, nós não podemos dizer quem é, pois a senhora pensará que estamos inventando coisas. – respondeu o Pedrinho.
- Por que não tenta? – insistiu D. Noemi sorrindo.
Chegou o dia de Natal. As crianças vestiram suas roupas novas e às sete horas da noite estavam entrando no salão de festas do asilo. Elas iam cantar as canções natalinas que ensaiaram durante o ano. Depois do canto, às oito horas, seria o momento da surpresa para a velhinha de 97 anos. Aninha estava nervosa e cochichava uma pergunta no ouvido da Letícia:
- Será que ele vem?
Ninguém sabia. Cantaram como anjos e foram aplaudidas pelos velhinhos emocionados. A diretora queria saber o que significava uma árvore de natal toda enfeitada no escuro, sem iluminação. As crianças não disseram nada, só olharam uma para as outras. D. Cora já estava no seu quarto, em frente a ampla janela, sentada na cadeira de rodas esperando ela não sabia o quê. Os outros velhinhos, desconhecendo o motivo, estavam sentados por toda a varanda. As crianças da quarta série rodeavam silenciosamente D. Cora quando se ouviu um “cricri”.
- É ele... gritou Aninha quebrando o silêncio -, é ele. Ele chegou, pessoal!
– Ele quem? - quis saber a velhinha sem obter resposta.
Outra vez se ouviu o “cricri”, novamente “cricri, e um barulho de insetos levantando vôo. Era como uma nuvem de gafanhotos envolvendo a árvore enfeitada e, na escuridão do jardim, bilhões de vagalumes acendiam e apagavam as suas luzes tornando aquela simples árvore do jardim em uma verdadeira e belíssima árvore de Natal digna de um rei. Palmas e gritos de “Viva!” ecoaram pelo ar. D. Cora ficou emocionada. Do seu rosto corriam as lágrimas mais felizes de sua vida. Uma árvore de Natal verdadeira só para ela.
– Meu Deus, crianças, nunca pensei que teria um Natal tão feliz. Obrigada, meus amores.
E por toda a semana do Natal, a iluminação continuou, pois os vagalumes, a pedido do grilo falante, acamparam por todos os galhos da grande árvore. As pessoas mais velhas diziam que aquele fato se deu por causa da derrubada da vegetação de um grande parque da cidade. Não tendo mais o abrigo natural, os vagalumes escolheram a grande árvore do asilo para ficar por um tempo. E ser dia de Natal, foi só uma coincidência. As crianças riam da história dos adultos, porque só elas conheciam a verdade.


1 e ½ de (sopa) de raspas de laranja
2 de (chá) de bicarbonato de sódio
2 de (chá) de canela em pó
1 de (chá) de gengibre em pó
½ de (chá) de cravo em pó
2 de (sopa) de melado
½ de (chá) de sal
1 ovo

3 a 4 (sopa) de leite
1 e ¼ de amido de milho
2 e ½ de açúcar
5 de trigo
150 gramas de manteiga
Suco de 1 limão
Raspas de limão
1 pitada de sal
2 ovos



Sou palhaço, de fazer rir me orgulho
entre eu e o mundo existe um muro
a minha alma em versos distribuo
do meu tesouro inteiro eu me desfaço.
Enfeito o meu rosto com uma lágrima
que cobre a verdadeira, que é salgada
igual ao mar, que eu amo tanto
e quiçá seja feito do meu pranto.
Num rosto amigo meu olhar passeia
perguntando se por mim anseia
porque nada além do riso eu posso dar
meu coração não aprendeu a amar.
Sozinha no meu quarto encaro o espelho
tentando descobrir meu próprio anseio
um sonho que escapou, quem sabe um dia
quando eu os tinha ainda e acalentava.
Mas nada encontro e o riso se desfaz
a lágrima se oculta, seca, ineficaz
vou pela vida buscando um amanhã
que mesmo vazio, me traga a paz.
Enquanto isso, meu riso continua
meio torto, indelicado, mal feito
mas é a oferta que tenho, e é sua.
É fácil nele crer, se você crê na lua...





A FESTINHA DE NATAL
Maria Hilda de J. Alão
Lourenço Vergara vivia apressado. Professor da escola primária, ele passava correndo de uma sala para outra sem olhar para as crianças que transitavam pelos corredores. Às vezes trombava nelas e pedia desculpa afobado. As crianças achavam engraçado o jeito do professor. Diziam que ele parecia um grande urso de óculos. Por causa dessa estranha pressa, ele não participava das festas da escola. Sempre que era convidado, agradecia e dizendo que estava atrasado ia embora.
Faltavam poucas semanas para o Natal e as classes de Lourenço Vergara faziam planos para o encerramento do ano letivo. Seria uma festinha de natal. A diretora já havia comprado os presentes e os arrumou cuidadosamente ao pé da grande árvore de natal que enfeitava o salão de festas da escola. Chamava atenção a caixa embalada com papel dourado. Aquele era o presente do professor Lourenço Vergara, comprado com o dinheiro rateado entre os alunos. Embora apressado e muito sério, Lourenço Vergara era um ótimo professor e todo ano era o que mais alunos aprovava com qualidade.
- Professor, o senhor vai à festinha de natal? Nós gostaríamos que estivesse presente. – perguntou uma das crianças.
- Não. Tenho um compromisso muito importante. – respondeu apressado abrindo a porta da sala de aula.
- É mais importante do que os seus alunos? – insistiu a criança.
- É tão importante quanto... – não deu para ouvir o fim da frase porque a porta se fechou.
Finalmente o dia da festinha de natal. Muita alegria, comes e bebes e a troca de presentes. Aos poucos as crianças foram se despedindo. No salão vazio a árvore de natal iluminava o único presente que sobrou: o presente do professor Lourenço Vergara. Luciana, uma das alunas do professor, pediu à diretora que a deixasse levar o presente para entregá-lo ao professor em sua casa. Acompanhada dos amigos, Mário e Ritinha, Luciana partiu para a residência do mestre. A casa ficava numa rua sossegada e era circulada por um gramado bem tratado. As crianças bateram palmas e como ninguém as atendeu elas entraram pelo jardim encaminhando-se para os fundos.
De repente Luciana parou fazendo sinal para os dois amigos. Nos fundos da casa, um gramado especialmente desenhado e com brinquedos infantis, lá estava o professor com duas crianças paraplégicas, seus filhos. Ele brincava com elas.
- Papai, eu quero escorregar no escorregador. – pedia a menina.
- Papai, vem brincar de cavalinho comigo. – pedia o menino.
E o professor atendia, participava da brincadeira como se ele também fosse criança. Agora ele tinha nas mãos uma prancha de madeira pintada de verde. Colocou os dois filhos sentados nela e começou a puxá-la.
- Vamos lá, papai! Vamos lá! – gritavam alegremente os dois filhos de Lourenço. Isso se repetiu por quase uma hora.
Luciana e os amigos aproximaram-se e ela estendendo o presente para o professor disse.
- O senhor tem muita energia.
Sorrindo Lourenço respondeu.
- Eles são paraplégicos, resultado do acidente de carro que vitimou minha esposa. Sou eu quem cuida deles. Venham crianças, venham brincar com eles.
E foi uma tarde de muita alegria e confraternização. Luciana, Mário e Ritinha entenderam a pressa do professor. E quando as aulas recomeçaram no ano seguinte, a escola toda ficou conhecendo a história de Lourenço Vergara, o pai cheio de energia que tudo fazia pelos filhos especiais.